O viajante de Mato Grosso, Gabriel Dias, de 27 anos, conhecido como ‘Gabriel Viajou’ nas redes sociais, percorreu cerca de 5 mil quilômetros de carona com duas lhamas compradas no Peru para presentear um amigo em Chapecó (SC). A viagem começou no dia 17 de maio e terminou na última sexta-feira (18).
Gabriel trabalhava como corretor de imóveis em Cuiabá, mas largou tudo em 2017 para conhecer o mundo viajando de bicicleta, a pé, e de carona.
Durante a pandemia, devido às restrições, ele deu uma pausa nas aventuras. No entanto, após saber do desejo do amigo em ter um casal de lhamas, ele decidiu retomar as viagens.
“Fiquei na casa de um amigo em Santa Catarina. O pai dele comentou que tinha vontade de ter um casal de lhamas em sua propriedade. Ele e a netinha são fascinados por animais. Instantaneamente, me imaginei viajando com duas lhamas de carona e pensei que seria uma grande aventura”, contou.
O mochileiro disse que foi motivado pela saudade de uma nova viagem. Um dia após a conversa com a família do amigo, ele partiu para o Peru.
“Quando disse aos presentes no recinto que iria buscar o casal de lhamas ninguém acreditou. No outro dia arrumei minha mochila e fui. Foi uma viajem muito doida, as pessoas que me encontravam no caminho me chamavam de doido, riam, mas acabavam me dando carona”, relatou.
A estrada
Gabriel disse que, ao longo da viagem, sempre parava nas cidades para dar água e alimentar os animais.
“Em Cochabanba – fronteira Bolívia/Peru – fiquei um dia todo com elas pastando e descansando. De lá segui até Santa Cruz, onde fiquei uns 10 dias com elas descansando, dei as vacinas e chamei um veterinário para ver se estavam bem”, contou.
Após a pausa para o descanso, ele seguiu com os animais para Corumbá (MS), descansou por mais um dia, passou por Campo Grande e, finalmente, chegou ao destino final, Chapecó (SC).
“Foi uma experiência surreal. Deu trabalho, mas foi divertido. Eu mesmo duvidada que conseguiria. Quando estava indo pensei em desistir várias vezes, mas depois que já estava com os bichos tive certeza que conseguiria”, disse.
O viajante disse que o amigo ficou surpreso ao receber presente.
“Ele ficou muito feliz, nem acreditou que eu realmente tinha ido e que estava ali com as lhamas”, ressaltou.
Próxima aventura
Gabriel disse que está passando um tempo em Florianópolis escrevendo um livro sobre a jornada ao redor do mundo. Depois ele pretende planejar o próximo destino.
“Estou evitando viajar no período de pandemia, mas quero muito retomar minha volta ao mundo – que foi interrompida no Alasca – quando tudo voltar ao normal”, pontuou.
O viajante também aproveitou a pausa para retomar os negócios imobiliários em Cuiabá enquanto as fronteiras estão fechadas.
“Peguei algumas fazendas para vender em Mato Grosso e acabei indo ao sul do Brasil visitar alguns clientes e também trabalhar no meu livro”, explicou.
Carona até o Alasca
O empresário saiu da casa dos pais, em Brasnorte, a 580 km de Cuiabá, em outubro de 2018 para começar a viagem até o Alasca.
Foram percorridos mais de 100 mil km de carona e bicicleta, passando por 22 países. Ele chegou ao destino final em fevereiro do ano passado.
“Fiquei 9 meses no norte da América. Voltei do Alasca em agosto do ano passado”, disse.
Para pagar despesas com alimentação e hospedagem durante a viagem, ele fazia trabalhos voluntários e também ganhava comida de moradores dos locais onde passava.
‘Na Natureza Selvagem’
Gabriel se inspirou no livro “Na Natureza Selvagem”, que depois se tornou filme. O livro escrito por um jornalista conta a história de Christopher McCandless que foi um viajante estadunidense. Ele tinha o mesmo objetivo que Gabriel: ir até o Alasca, porém, por falta de alimento e muito frio, morreu em um ônibus abandonado.
Ele disse que baixou o livro no celular e quando começou a quarentena decidiu ir acampar nas montanhas. Comprou bastante comida e um telefone via satélite para se comunicar com a mãe.
Na viagem, Gabriel foi até o ônibus em que Christopher morreu. Assim como o personagem, ele tentou ir até o rio Tekekna, mas percebeu que não tinha comida suficiente, não tinha peixe no rio e decidiu voltar. O rio estava derretido e perigoso.
Foi quando Gabriel pediu resgate.
Alguns minutos depois o helicóptero chegou. Gabriel afirmou que esse foi de longe uma das maiores dificuldades que já enfrentou nessa viagem.