O menino Graciliano nasceu, como é sabido, em Quebrangulo (AL), mas viveu até os sete anos em Pernambuco. Em 1899, aquele que se tornaria uma das maiores expressões da literatura brasileira desembarcou em Viçosa, a cidadezinha alagoana onde a família Ramos se estabeleceria até 1910. É nesse espaço, no tempo e na vida do Mestre Graça, que Sidney Wanderley e Julia Cunha concentram sua arqueologia poética, que pode ser conferida no recém-lançado “Graciliano em Viçosa”.
É que apesar de o nome de Graciliano Ramos ser associado somente às cidades de Quebrangulo, onde nasceu, e Palmeira dos Índios, onde foi prefeito por dois anos, foi em Viçosa que Graciliano – o menino – cresceu de fato. Ali, naquela província religiosa e de rico folclore, Graciliano assombrou-se com o tratamento dispensado pelas professoras aos filhos de coronéis e aos demais, percebeu-se analfabeto, engenhando bonecos de barro, trajando roupas ordinárias e mordido de inveja dos Mota Lima (vizinhos que, depois, se tornariam amigos), como ele mesmo revelou no livro “Infância” (1945).

Mas não foi só isso que Graça extraiu do cotidiano peculiar dos viçosenses. E é aqui que está o valor da obra publicada pelo poeta viçosense Sidney Wanderley e prefaciada pelo jornalista e escritor Xico Sá. Foi em viçosa que o futuro romancista descobriu a literatura, embrenhou-se nas letras como se elas o pudessem salvar, fermentou personagens como Paulo Honório, de “São Bernardo”, romance ambientado em Viçosa e que depois virou filme.
“O menino que deu no velho Graça tem a sustança fermentada em Viçosa. Para todo o sempre. Na arte e na existência. Daí a importância dessa arqueologia poética de Sidney Wanderley. Uma busca com o faro de um filho da terra que ao procurar os rastros de Graciliano amplia, e muito, o retrato da sua aldeia para o mundo”, diz Xico Sá em trecho do prefácio da obra.
Sá, outro fanático pela trajetória de Graça, lembra que Paulo Honório é o maior anti-herói da literatura brasileira, apinhado de representativas brutalidades e ressentimentos.
“[…] Do mesmo barro cria-se a professora Madalena, toda trabalhada na delicadeza, a mulher da árida criatura. E é nesta mesma Viçosa, no ano de 1971, que a turma do diretor Leon Hirszman filma a versão da obra [São Bernardo] para o cinema. Um rebuliço no interior das Alagoas, como relata Sidney Wanderley”, diz Sá.
Com informações Gazetaweb