Um debate para encontrar soluções que combatam a violência doméstica foi promovido nessa segunda-feira (30), na Câmara de Vereadores de Maceió, durante a audiência pública denominada “Quebrando o Silêncio”, que pôde ser acompanhada por representantes da sociedade civil de maneira híbrida. Presidido pelo líder do governo, o vereador Siderlane Mendonca (PSB), o encontro trouxe à tona, através de seus convidados, a dura realidade vivida pelos grupos mais vulneráveis: mulheres, idosos e crianças.
“Os números estão aí mostrando que quanto mais pobre, mais vulnerável essas vítimas se tornam. Precisamos mudar essa realidade e não nos acostumarmos com a violência nem com o abuso”, disse o vereador, em discurso. “Desde meu primeiro ano de mandato, mantenho um projeto no Benedito Bentes voltado para as mulheres onde promovo cursos para que elas possam recomeçar, caso estejam vivendo em um relacionamento abusivo. Precisamos amparar e ajudar, sem julgamentos”, acrescentou.
Representado a prefeitura no evento, a secretária do Gabinete da Mulher em Maceió, Ana Paula Mendes, fez um tocante discurso, pedindo que todos se envolvam na causa do combate à violência. “Entre os estados do Nordeste, Alagoas é o que mais mata mulheres vítimas de feminicídio. No brasil, ocupamos no vergonhoso 5º ligar. Não podemos aceitar, não podemos nos acostumar com essa dura realidade”, observou a secretária. “Gostaria de parabenizar ao vereador Siderlane Mendonça por promover esse importante debate e também à Igreja Adventista pela defesa dessa bandeira. A igreja está na ponta, ela sabe primeiro o que está acontecendo dentro da casa dos seus membros. É muito importante que os líderes religiosos, ao saberem das agressões, entendam que a vítima é a mulher”, destacou Ana Paula.
Ainda segundo a secretária, 40% das denúncias de violência são de mulheres evangélicas e muitas delas não receberam atenção das congregações que frequentam. “Quando elas pedem ajuda, ouvem que devem orar pelos seus companheiros. Concordo, mas aconselho que elas orem longe deles, em segurança”.
O movimento que leva o nome da audiência é promovido pela Igreja Adventista do Sétimo Dia e tem o apoio do Gabinete da Mulher em Maceió, que também estavam presente no evento, além do representante da Comissão Especial do Idoso da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB/AL), Gilberto Irineu.
Em discurso, o advogado citou alguns casos de crime contra pessoas idosas e defendeu a criação de uma delegacia especializada que atendam esse grupo da população, ou uma guarnição especializada, citando como exemplo a Patrulha Maria da Penha e o Ronda no Bairro. “De todo Brasil, somente Alagoas e Amapá não possuem delegacias especializadas”, enfatizou Gilberto Irineu. Ainda de acordo com dados apresentados pelo representante da comissão, as denúncias mais recorrentes são a violência financeira, quando parentes se apropriam da pensão ou proventos do idoso e o deixam à míngua, e a negligência, caracterizada principalmente pelo abandono das vítimas. 67% dessas vítimas são mulheres com idade entre 76 e 80 anos”, revelou doutor Irineu.
Em seguida foi a vez da psicóloga, sexóloga, terapeuta de casais e especialista em saúde da mulher, Nara Gonçalves Neri Lima, que trouxe uma visão clara do abuso cometido por homens contra suas esposas, antes ignorado socialmente. “Dependência emocional, violência e palavras de depreciação não são normais. Isso não é amor, é crime. Nem sempre o ferimento é visível, as feridas da alma são bem mais difíceis de serem curadas”, explicou a especialista. “Precisamos ir além das palavras e ajudarmos, de fato, quem está sofrendo.
Histórias relatadas pela psicóloga especializada em atendimento de crianças vítimas de violência doméstica também foram expostas. Membro da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais atua em crises humanitária e no desenvolvimento de comunidades (Adra), Joceline Oliveira. “A situação agravou quando a criança precisou ficar em casa por conta do período de pandemia, ficando mais vulnerável ainda a todo tipo de violência”, explicou a psicóloga. “O debate precisa ser contínuo para que todos, inclusive as crianças, possam identificar a violência assim que ela acontecer. A dificuldade é reconhecer o agressor como criminoso, pois muitas vezes o discernimento torna-se confuso por conta do vínculo familiar”, destacou Joceline.
Com informações Assessoria Câmara de Maceió